Ana Maria Boschiero, nossa amiga , fã de Elton John, e , claro nossa associada no forum no Facebook, me alertou de sua ida a ver apresentações de Sir Elton John, que iriam se realizar próximas à sua cidade. Prontamente falamos: hey, ANA MARIA, que tal realizarmos uma matéria? seria muito bacana, não?
ANA topou o desafio e em um texto muito intimista nos narra sua jornada de aventura na realização de seu longo sonho de ver de perto Sir Elton.
Ana encontrou ANDRÉ PÉRCIA NO SHOW (ABAIXO) antigo conhecido de nosso fã clube, também associado.
Trinta e oito anos.
Foi o tempo que eu levei para realizar meu sonho.
Sonho de ver no palco, somente aquele piano e aquela voz que encheram de energia minha adolescência, juventude, enfim, minha vida.
Foi maravilhoso vê-lo ao vivo algumas vezes, mas eu queria mesmo era vê-lo só. Deve ser sensacional, eu pensava.
O longo tempo de espera, muito mais do que valer a pena, valeu uma vida.
Foi muito, muito mais do que eu poderia imaginar.
Não foram minhas férias, eu literalmente fugi de minha família, meus amigos e meus clientes por uma semana, minha tão sonhada semana...
Foram três noites espetaculares, cada uma a seu modo. Duas em Roma, cidade que eu adoro, e outra em Taormina, uma jóia no Mediterrâneo, na Sicilia. Tudo isso na Italia, meu segundo país.
No Auditorium Parco della Musica, um arrojado projeto de arquitetura do brilhante Renzo Piano, ele começa os concertos de modo quase solene, muito aplaudido e um pouco tenso, por incrível que pareça. E em Taormina entra quase sem fôlego, pela longa subida até às ruínas do Teatro Antico, no topo da cidade. Mas rapidamente deixa sua música tomar o controle da situação.
E é aí que a mágica acontece.
Elton transforma a si mesmo e a nós em alegria, vibração, força, com uma extrema competência de quem sabe realmente o que está fazendo. E o faz com o coração, simples assim.
No início de cada música o povo aplaude muito, reconhecendo cada uma pelos primeiros acordes.
Observei muito o público italiano, que eu adoro, com o qual eu tive o privilégio de pegar carona. Uma reação para cada música, mas quase todos tinham um teclado imaginário no colo, e saíam tocando junto. Coisa lógica para um povo que conta com gestos para expressar suas emoções.
A cada improviso, eu ouvia dezenas de “mamma mia!”
Vou tentar descrever o que vi, ouvi e senti...
A introdução é igual à de Ephesus, linda, e ele começa com The One. Irônico, não?
Passa para Sixty Years On, impecável, sua voz está ótima.
Em The Great Discovery, fala dos 40 anos de lançamento de seu segundo álbum.
Border Song pega uma carona e faz o povo se mexer e bater palmas acompanhando o ritmo implacável do piano.
The Boy with the Red Shoes vem acompanhada de crítica ao governo Reagan sobre a política de ignorar a AIDS.
Fala do álbum Songs of the West Coast e toca The Emperor’s New Clothes e começam os aplausos no meio da música.
I Guess That’s Why They Call it the Blues faz todo mundo cantar alto e ele sorri olhando para a platéia, sempre checando a reação as pessoas mais próximas.
Mas é em Rocket Man que acontece o grande momento. Um show de interpretação, solo, improviso, precisão, e a emoção explode tanto no palco quanto na platéia.
Aplausos e o povo de pé por algumas vezes durante os 9 minutos da música. Insano.
Para aliviar o estado de choque em que nos encontramos, ele mostra a nova Never too Old (to hold somebody), avisando que o novo cd com Leon Russell - The Union - sai em Outubro.
Na lindíssima Tiny Dancer, novamente os aplausos já nas primeiras notas, que são inconfundíveis.
Na sequência, uma versão perfeita de Philadelphia Freedom. Quem viu o DVD do concerto de Ephesus sabe do que eu estou falando. Um balanço sensacional, uma “levada” que só ele sabe fazer.
Em Your Song, o povo canta junto, baixinho. Casais que se dão as mãos, pessoas que se olham, outras que como eu se lembram e também como eu, não conseguem segurar uma lágrima aqui e outra ali, afinal estamos na Italia. Que presente...
Na junção de Funeral for a Friend e Tonight, a entrada em grande estilo de Ray Cooper, um show à parte. Joga as baquetas para trás, faz caras e bocas. Ele é teatral e incrível.
Aparece e desparece como mágica, vai para as luzes e para o escuro, como um fantasma que sabe o momento exato de assombrar. E assombra.
O que dizer de Better Off Dead? Piano e percussão fazem uma dupla perfeita, como goiabada com queijo, como Elton e Bernie...fabuloso. Todo mundo de boca aberta e mais “mamma mia!”
Levon é uma das minhas músicas favoritas. Fui ao delírio com a platéia e com ele também, que no final levanta e bate a tampa do piano com força. O Auditorium veio abaixo. Em Taormina foi em Philadelphia Freedom.
Aqui quero abrir um parêntesis. Eu toco piano, portanto todos os seus movimentos em suas performances me chamam a atenção.
Fico hipnotizada assistindo aos vídeos nos quais focalizam suas mãos. Seu piano vale uma banda toda, sem dúvida. Um senhor ao meu lado me perguntou rindo se eu sabia onde estavam escondidos “os outros 2 pianistas”...
Mas como eu estava muito próxima ao palco, pude ver que seus pés são um capítulo à parte. Enquanto o esquerdo está marcando o compasso, pra frente e pra trás, o direito está em outro mundo, cuidando do pedal do piano. Desnecessário dizer que tudo funciona perfeitamente. Haja coordenação.
Apresenta a nova Gone to Shiloh, que é sobre a guerra civil americana, tema favorito do Bernie. Para quem já ouviu, sabe que podemos esperar muito deste novo CD. Umas das melodias mais lindas que ele já produziu. A percussão está fantástica.
Segue direto para Indian Sunset – outra que eu adoro – maravilhosa.
Novamente o público vem abaixo em I Think I’m Going to Kill Myself, seja pela alegria com que ambos tocam ou pelo sincronismo perfeito do piano e do vibrafone. O final é de matar, uma parada brusca mais do que precisa.
Seguem dois grandes clássicos: Daniel, com todo mundo cantando junto e Sorry Seems to be Hardest Word, lindíssima, quando eu fiz uma força imensa pra não chorar. Mas não funcionou...
Nas três noites, três introduções totalmente diferentes e geniais de Take me to the Pilot, que ele adora tocar. Na realidade, essas introduções são improvisos onde ele navega por vários estilos, se divertindo, parecendo que tira cada acorde de uma cartola de mágico. Fazendo caretas e se movendo no ritmo. Uma delícia...
No final desta música, nos três concertos, as pessoas que estão mais próximas, inclusive a pessoa aqui, saem de suas poltronas e vão para a beira do palco.
Nas próximas, com todo mundo já muito perto do piano, platéia toda em pé, ele canta com os olhos no povo. Don’t Let the Sun Go Down On Me, Bennie and the Jets e Crazy Water.
E eu entendi que aí está sua adrenalina, sua realização. Estar ali pertinho de seu público com as pessoas grudadas no palco, cria um momento incrível de uma grande energia pra ele.
O sorriso não fecha mais e os agradecimentos “Grazie” e “Thank you” são dele para a platéia e da platéia para ele. Lindo.
Antes do bis, diz que adora a cultura italiana, que tem uma casa em Veneza. Roma? Linda cidade, ele diz, dia lindo, auditório maravilhoso. Duas noites incríveis.
Vem pra junto do povo, dá autógrafos, é muito solícito. O povo fica admirado e as pessoas que estão perto de mim comentam que ninguém faz isso hoje em dia...
Termina com Saturday Nights e aí já fica difícil de descrever. Tento contar mas não consigo, é absolutamente mágico. Me senti adolescente de novo.
Em Taormina ele estava em noite muito inspirada, se divertiu mais do que todos. A RAI 2 transmitiu em rede nacional.
Choveu, e embora o palco fosse coberto, a água chegava. Ele pedia para secarem o piano e continuava sorrindo. Em um certo momento, um aviso da mesa, algum dos efeitos do piano está com problema. Eu estava na 5ª. fila, ouvi claramente – desligue, eu vou por minha conta.
E mostrou que quem sabe, sabe. Foi o melhor improviso das 3 noites.
Realizei o sonho de vê-lo tocando sozinho, e pude constatar que assim ele cresce muito, muito mesmo. Vira um monstro no palco, onde não existe divisão entre musico e instrumento, o que existe é pura energia.
Foi a melhor semana da minha vida, sem dúvida.
E o mais incrível de tudo, foi ver que enquanto eu olhava para o palco, a 2 metros daquele piano, vi a minha história passar. Sua música tem sido meu apoio e meu refúgio por 38 anos.
Agradeci muito a Deus por ele ter me mandado o André Percia em Roma. Como se coincidência existisse, ele estava ao meu lado na platéia.
Sem ele, eu jamais teria tido coragem de ter quase engatinhado até o palco “de carona no fan clube da Italia, como adolescente” e não teria vivido esses momentos maravilhosos.
André, por sua causa, foi tudo muito, muito melhor.
Em Taormina, depois do concerto, cheguei no hotel rouca, molhada, mas feliz e de alma lavada. O pessoal da recepção, super simpático, me perguntou se a chuva tinha atrapalhado.
Chuva, que chuva? Woo yeah !!!
Ana Maria Boschiero
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